sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A desconhecida que superou Verissimo e Rubem Fonseca


Divulgado no último dia 11, o Prêmio Jabuti 2016 causou surpresa, pelo menos na categoria “Contos e Crônicas”. Ainda pouco conhecida, a escritora gaúcha Natalia Borges Polesso, de 35 anos, derrotou nomes como Rubem Fonseca, Luis Fernando Veríssimo, Luiz Eduardo Soares e Antonio Carlos Viana. Nem mesmo a própria autora, que foi recompensada por seu segundo livro de contos, “Amora” (Não Editora), imaginava que iria vencer.


— Conhecendo o trabalho das escritoras e dos escritores que figuravam entre os finalistas, pensei que ali entre os dez já estava a minha imensa alegria e comemoração — conta Natalia, em entrevista por email. — Quando saiu o resultado demorei alguns minutos para entender.

Natalia publicou a sua primeira coletânea de contos, “Recortes para álbum de fotografias sem gente” (Modelo de Nuvem), em 2013 — um projeto inaugural e “um tanto cru em termos de técnica”, como ela mesmo define, que juntava vários recortes em prosa poética. Depois de um livro de poemas (“Coração na corda”), veio “Amora”, uma obra mais pensada. A ideia era trabalhar com protagonistas lésbicas, falando sobre relações de afeto, mas não de maneira erótica.

— A gente fala lésbica e a galera já pensa em sexualidade — diz a autora. — O erotismo tangencia alguns contos, mas estou mais preocupada em contar histórias de vida. Os textos tratam de vários tipos de relação, desde curiosidades infantis por figuras enigmáticas ou estranhas até amores adultos e na velhice. Nesses três livros que publiquei, tratei direta ou indiretamente de relações homoafetivas. Com o tempo, fiz desse ponto de vista uma escolha estética, porque acho importante que essa experiência seja vista, reconhecida e respeitada.

Moradora de Caxias do Sul, uma cidade de 500 mil habitantes no Rio Grande do Sul, que ela não considera nem “interior” nem “grande centro” do Brasil, Natalia vive numa espécie de meio termo de espaço e de mentalidade. Embora não saiba dizer se isso faz dela uma “escritora periférica”, acredita que, como mulher e lésbica, acaba ocupando “um lugar de fala que faz um contraponto necessário num mar de vozes masculinas”.


— Personagens lésbicas não são uma novidade na literatura brasileira, mas parece-me que é um assunto pouco explorado — diz. — Quero pensar que hoje existem mulheres escrevendo sobre isso e de todos os pontos de vista possíveis. E quero essas vozes em feiras e festas literárias. Quero dizer: estamos aqui escrevendo e (r)existindo.

maxmorenooficial.com.br


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