sexta-feira, 9 de maio de 2014

Projeto para "descomplicar" Machado gera racha até entre escritores

"Ousadia!" "Barbaridade!" "Onde é que vamos parar?" A notícia de que a escritora Patricia Secco vai lançar uma versão "facilitada" do conto "O Alienista", de Machado de Assis, provocou uma onda de críticas à autora, que submeteu ao Ministério da Cultura o projeto "Os clássicos e a leitura", para simplificar a linguagem de clássicos da literatura brasileira, fazendo a transposição para uma forma contemporânea.


"A ideia é distribuir os livros para não leitores, para pessoas simples, que sequer sabem quem é Machado de Assis, como o meu eletricista ou o porteiro do meu prédio. Quero aproximar os clássicos dessas pessoas, não distribuir livros em escolas, para crianças. Aliás, nem quero que os jovens leiam isso. É para um outro Brasil, para aqueles que nunca leram e de repente querem ter a oportunidade de conhecer um livro", explica Patrícia.

Entre os escritores, é esperado e compreensível que muitos se declarem contra – afinal, são eles que escolhem as palavras que vão usar em seus próprios livros –, mas no meio de tantas vozes indignadas, há quem dê um crédito para a iniciativa da escritora.

Em sua página no Facebook, o jornalista e escritor Ronaldo Bressane ("Mnemomáquina", "O Impostor") se mostrou a favor do trabalho de Patrícia. "A reforma na educação da literatura passa sim pela atualização da linguagem, mas não só: também pela atualização do currículo, que segue desonesto, capenga e inacessível desde a época em que eu tinha Machado na escola (e não lia, porque Rubem Fonseca tinha mais a ver com a minha realidade). (…) É preferível que o sujeito comece a ler através de uma adaptação bem feita de um clássico do que seja obrigado a ler um texto ilegível e incompreensível segundo a linguagem e os parâmetros culturais atuais. Depois que leu a adaptação, ele pode pegar o gosto, entrar no processo de leitura e eventualmente se interessar por ler o Machadão no original. Agora, dar uma machadada em um moleque que tem PS3, Xbox, 1000 canais a cabo e toda a internet à disposição é simplesmente burrice", provoca.

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